terça-feira, 16 de agosto de 2011

Felicidade



Hoje eu acordei muito bem. Tomei um café da manhã saudável, respondi alguns e-mails, vi minhas notificações no Facebook, troquei de roupa e fui correr - não vivo sem serotonina.
No meu mp3 só músicas que me alegram, ou que me fazem pensar, que aí eu nem vejo o tempo passar e quando dou por mim já to voltando pra casa.
Tudo muito bem, tudo muito bom, e passando pela ponte, na volta, eu vi um senhor de aparentemente 75 anos carregando um desses carrinhos enormes, cheios de papelão e demais recicláveis. O sol tava escaldante, e ele ia em passinhos homeopáticos, empurrando o carrinho com o resto de força de que ainda dispõe.
Aí eu parei pra pensar, mais uma vez, sobre a felicidade.
Eu sou otimista, mas pra mim felicidade, hoje, não existe se você tem o mínimo de compaixão. Ou você é capaz de ser feliz sabendo que enquanto você se diverte na internet, um senhor que já viveu o triplo que você, e que deveria estar curtindo a vida de uma maneira mais digna, está debaixo do sol empurrando quilos de papelão pra garantir um almoço? Eu não sou.
Não consigo dizer que eu sou feliz. Não que eu seja triste, mas esse estado durável de plenitude que dizem que é a “felicidade”, não suporta conviver com todas as injustiças que nos rodeam.
Egoístas todos somos, nem vou aprofundar nesse assunto. E, quando se trata de felicidade, tendemos a ser descaradamente egoístas. Só porque o sujeito tem um bom emprego, uma boa base familiar, um bom casamento, bens materiais etc, ele cisma em dizer que é feliz. Aí ele pega seu carrão e sai de casa cedo pra trabalhar, dá um beijo na esposa, deixa os filhos lindos e saudáveis na escola, e segue pra mais um dia de hipocrisia humanitária. Não to dizendo que ter isso tudo acima é errado, pelo contrário. Mas só porque você tem motivos pra agradecer a Deus por tudo que tem, não significa que você é feliz.
Não vejo felicidade num mundo em que filhos do mesmo Deus que você e eu, passam fome, não têm onde morar, levam tapa na cara por fumar maconha, perdem a orelha por abraçar o filho, levam chumbo por não serem heterossexuais, e têm que trabalhar até morrer porque a previdência social é uma merda.
Olhar pro lado te faz perceber que, contrariando o clichê, você só consegue ser feliz sozinho. 

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

De Manhã



Se eu fosse razoável
Eu teria de ser um só
E por mais que eu faça conta
Razão é coisa rara por aqui

Se eu fosse um só
Eu não seria nem metade do que sou
E até parece faz de conta
É raro acreditarem em mim

Se eu fosse só metade
Não daria conta de mim
E por mais que eu faça conta
Nenhum resultado satisfaz

Cansei de coisa certa
Quero tudo desmedido
E poder ser incontável
E poder crer no invisível

E poder rir do comum
E poder querer ser assim
E poder ter certeza
Até do que provam o contrário

Rua



Um moço andando na corda
Um outro tocando berimbau
A banda que já passou da hora
E o tambor ensurdecendo o mau

E mesmo antes de você me conhecer
Eu já tinha até escolhido o vestido
Já imaginava todos seus defeitos
E já sabia que não seriam suficientes

E o que me interessa niguém sabe
E não sou eu quem vou contar
É só sentar aqui do lado
E esperar pra ver no que vai dar

Não pense que foi por acaso
Mas escolha também não tinha
É que quando a gente percebe
A gente já não anda mais na linha

E tá na hora de voltar pra casa
E tá na hora de falar tchau
E a minha hora é que não entende
Pra entender de hora, demora…