quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Esqueci


Das miudezas que eu não quero mais
Essa é a que eu menos joguei fora
Luzes acesas, sapatos, jornais
A casa é só uma sala
Depois que a cor vai embora

Só que isso aqui ninguém quis
É por isso que ficou pra trás
É pequeno, não deu pra dividir
É ameno, ninguém quis sentir
É amônia, ninguém vai engolir
Vira insônia quando é hora de dormir
É insosso, mastiguei só pra cuspir
Mas, ainda assim
Das realezas que eu já me cansei
Bom súdito que sou
Para essa eu sempre me curvarei

Mas, não muito
Porque quem muito se curva
Acaba dando voltas em si

Paredes riscadas, defeitos estranhos, notícias
A casa é só um corpo
Depois que a alma vai embora

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Vertente


Para Wesley Faria


Contratos são assassinados todos os dias
E ninguém se lembra de chorar
O contrato te maltrata,
É melhor por seu nome em outro lugar

Moço, uma hora você vai ter que aceitar
Ou pelo menos gargalhar!
O caso é que, você, não usa terno pra casar
E nem pra se empregar.

Alvoroço, eu sei, eu sempre sei
Quer dizer, eu sempre digo que sei
Vai ser sempre difícil,
Qualquer novo dia vai ser sempre um míssil
Qualquer hierarquia vai ser uma covardia
Uma grande covardia pra você, moço
Que é tão irreversível

E é tão inadmissível
Até mesmo para seus próprios mísseis
Imagina para as missas?
E imagine então para as massas?
É tão inadmissível, moço
Que só pode se demitir de seus cargos e encargos
Antes mesmo que eles se ofereçam a você

Moço, uma hora você vai ter que bocejar
Na frente de tanta gente que toma guaraná
Porque o caso é que você pode desrespeitar
Tudo que te diz respeito;
É seu direito.

Mas, moço, não deixa de comemorar
O fato de que ninguém nem sonhou em concordar
Com o tom do seu bom dia, com a cor da sua alegria
Com o seu jeito de não ligar pra postura,
E com o cansar da sua ternura

Comemora, moço
Por abrir caminho sem maquinário e sem facão
Do seu lado pode não ter corrimão,
Lá em cima pode até ter trovão
Quando cansar, comemora
Lá na frente o seu pai mostra a solução
Olha pra baixo, que esse é seu chão


Para o Bem de Alguém


Mas aí eu inventei essa ganancia
De entender a velhice dos meus dias infantis
E quis trocar as fraldas desses lamentos antigos
Que eu já não sei se são crianças ou não
Só sei que não cuidam de si sozinhos
E que, apesar de já terem caído de inúmeros ninhos,
Ainda não conseguiram ser atropelados;
Ainda não se apartaram das pernas quebradas;
Insistem em ser predadores
Com as asas presas

Agora já dá pra entender a discrepância
Entre o que se faz entre um pedido de paz
E o que nos faz voltar atrás
Sem perceber, a tempo
Que andar pra trás te faz cortar o vento
No pior dos sentidos

Mas aí eu entendi essa concordância
Entre o que eu sinto e os meus sentidos
E, sem perceber, o tempo
Quer andar no pior dos sentidos
Para o bem de alguém